Disseram-me que o tempo curaria tudo isso. Disseram-me que o passar dos dias aliviaria a minha dor e me traria paz. "É sempre assim, vai passar". Disseram-me que aos poucos eu me acostumaria à velha vida, as pessoas de sempre, a rotina de sempre e a mesmice de sempre antes de ti.
Eles não sabem de nada. Não sabem que é o passar do tempo que aumenta ainda mais o abismo que eu carrego dentro de mim cada vez está mais alto e sinto mais medo de cair. Não sabem que é no virar da noite que a saudade aumenta e que, não satisfeita em corroer a minha alma, transborda ao mundo em lágrimas. Não sabem o que é estampar um lindo sorriso, mas chorar compulsivamente no silêncio do meu interno. Não sabem o que é o meu corpo procurar por instinto o seu. Não sabem como é sentir o segundo passar como uma hora. Não sabem como é a sensação de se viver na completa inércia, de estar fora de mim, fora da razão.
Porque eu ainda te vejo toda vez que eu fecho os olhos. Eu vejo os seus olhos de menino-homem, eu vejo as suas mãos quando pegaram as minhas pela primeira vez, eu vejo os traços do seu rosto cuidadosamente desenhados. Eu te vejo chegando com aquele jeito único inconfundível de andar. Eu vejo você me contando seus mil planos que tinha para o nosso futuro e lembro o quão assustadoramente você pouco a pouco se revelava tão apaixonante. Eu vejo o seu olhar hesitante naquela primeira tarde juntos, eu vejo o seu sorriso, eu ouço a sua gargalhada. Eu vejo você dormindo ao meu lado e sua respiração no meu ouvido. Eu ouço você sussurrar aquelas frases. Eu sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto quando naquela noite depois que teu time perdeu dissestes que ias me deixar. Eu sinto meu corpo desfalecer quando vejo tua boca sendo de outra. Eu sinto nossos beijos novamente. Eu sinto nosso primeiro beijo. Eu sinto o seu cheiro. Eu sinto você me abraçando como quem me quer pra vida inteira. Olho pra varanda e nos vejo lá vendo o sol nascendo pra gente, escuto teu ultimo “eu te amo muito doido” seguido daquele sorriso
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